Foto tirada por Terry Morrison em 1987
O senhor na foto ao lado é o químico quântico, bioquímico, cristalógrafo, biólogo molecular, pesquisador médico e pacifista Linus Pauling (1901 - 1994). Considerado pela revista New Scientist um dos vinte maiores cientistas de todos os tempos, sendo ao lado de Albert Einstein as únicas personalidades do século XX a integrar esta lista, tendo sido um acêmico dos mais versáteis intervindo em diversos campos, como Química Orgânica, Química Inorgânica, Metalurgia, Imunologia, Anestesiologia, Psicologia e Radioatividade, único a ser laureado com dois Prêmios Nobel não compartilhados, o de Química em 1954 pelo seu trabalho relativo à natureza das ligações químicas e o da Paz em 1962 pela sua campanha contra os teste Nucleares.Eu poderia continuar a citar as laureas e comendas outorgadas a Linus Pauling, mas gostaria de, em lugar disso, publicar um trecho do livro 'O Mundo Assombrado Pelos Demônios - A Ciência Vista Como Uma Vela Na Escuridão', do Carl Sagan (ed. Companhia das Letras, 14° reimpressão, pág.: 403), que despertou o meu fascínio por este cientista e humanista.
"...Linus Pauling, mais do que qualquer outra pessoa, foi responsável pelo Tratado Limitado de Interdição de Testes, de 1963, que acabou com as explosões de armas nucleares acima do solo, realizadas pelos E.U.A, URSS e Reino Unido. Pauling organizou uma intensa campanha de indignação moral e dados científicos, que ganhou ainda mais crédito pelo fato de ser ele um laureado do Nobel. Na imprensa norte-americana, ele era em geral difamado pelos seus esforços, e nos anos 50 o Departamento de Estado cancelou o seu passaporte, porque ele fora insuficientemente anti-comunista. O seu prêmio Nobel (1954) foi concedido pela aplicação de idéias da mecânica quântica- ressonâncias, e o que se chama hibridização de orbitais - para explicar a natureza da ligação química que reune os átomos em moléculas. Essas idéias são agora o feijão com arroz da química moderna. Mas, na URSS, o trabalho de Pauling sobre química estrutural foi denunciado como incompatível com o materialismo dialético e declarado inacessível aos químicos soviéticos.
Sem se intimidar com essas críticas no Oriente e Ocidente - na verdade, sem sequer diminuir o ritmo de seu trabalho -, ele continuou fazendo pesquisas monumentais sobre como os anestésicos funcionam, identificou a causa da anemia de células falciformes ( a substituição de um único nucleotídeo de DNA) e mostrou como se podia ler a história evolutiva da vida comparando os DNAs de vários organismos. Ele estava no rastro certo da estrutura do DNA; [James] Watson e [Francis] Crick procuravam conscientemente chegar lá antes de Pauling. O veredicto sobre a sua avaliação da Vitamina C ainda está aparentemente distante. "Esse homem é um gênio" - foi a avaliação de Albert Einstein.
Durante todo esse tempo, ele continuou a trabalhar pela paz e pela amizade. Quando Ann e eu lhe perguntamos certa vez quais os motivos para a sua dedicação às questões sociais, ele deu uma resposta memorável: "Eu fiz tudo isso para ser digno do respeito da minha mulher", Helen Ava Pauling. Ele ganhou um segundo prêmio Nobel (1962), desta vez o da Paz, pelo seu trabalho para proibir os testes nucleares, tornando-se a única pessoa na história a ganhar sozinho dois prêmios Nobel."
Num mundo carente de ídolos, como o nosso, creio que não custa nada lembrar de alguns que já passaram por aqui e deixaram tanto para todos nós. Pelo diagrama insistentemente decorado nas aulas de química às demonstrações de retidão e coragem deixadas por ele, fica aqui a minha homenagem. Obrigado por tudo!
P.S.: Não deixem de ler a sua biografia aqui.
